Com que roupa vou hoje?

As relações de poder invisíveis no seu guarda-roupa

3 min readNov 11, 2019

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Vai para entrevista de emprego? Vai casar? Que roupa é essa? Virou banqueiro? Concursado? Tá igual startupeiro, só falta o colete e patinete.

Entre alguns elogios, estas foram algumas frases que recebi durante o dia ao sair de casa com uma roupa formal (camisa, gravata e sapato). Aqui no Guiabolso não temos dress code, e assim como algumas startups anteriores que trabalhei, temos esse privilégio de usar a roupa que quisermos. Inclusive, posso escolher um dia para andar formalmente pela minha vontade - o que é visto por alguns com espanto.

Mas nem todos os lugares são assim: já trabalhei num ambiente corporativo que convidava as pessoas a trabalharem de bermuda, ou como quisessem, mas não era bem visto. Um lugar inclusive que se olhava crachás para início de conversa, zoava vegetarianos e pessoas fora do comum. A mentalidade era outra. Eu, como terceiro, gostava de ir com uma camisa florida bem chamativa só para quebrar o clima, porém me sentia intimidado. Algumas vezes, não era levado a sério.

Recentemente vi um episódio do Explained (Netflix) que fala sobre Look Esportivo (Athleisure) e como as roupas de academia foram parar nas ruas. Fala muito esportes, tecnologia e papel social da moda — como foi a evolução durante anos e dividiu o que era de homem e o que era de mulher. Os ricos podiam pagar um alfaiate, os bem-sucedidos mostravam poder pela roupa e bem pessoais.

Um ponto interessante do episódio é quando falam sobre as roupas, relação de poder e privilégios. Steve Jobs, Mark Zuckerberg e outras grandes figuras, que só utilizavam o mesmo estilo de roupa todos os dias, não precisavam usar ternos ou estar engravatados para simbolizar algo. Eles já estavam numa posição de poder.

Steve Jobs com sua roupa clássica. Logo, inspirou Markinho do Facebook e milhões de empreendedores

Enquanto isso, pessoas em posições abaixo precisam se vestir bem para mostrar alguma autoridade/relevância em determinada reunião. Já ouvi muitos relatos de mulheres que precisaram se vestir formalmente (vestido, blaser, sapato) para serem (se quer) ouvidas em reuniões ou chamadas para tomada de decisão. E gente, estamos em 2019.

A Isabella Paschuini trouxe no texto Por que você precisa usar roupa social? essa frase: Tendemos a achar que um rapaz com barba por fazer é desleixado e que uma moça bem penteada é super competente, e isto faz parte do viés cognitivo e economia comportamental que tanto utilizamos no dia-a-dia. Aliás, recomendo muito o texto dela que explora mais a fundo este assunto.

Querendo ou não, ainda vivemos numa sociedade que nos classifica pela primeira impressão. A Havaianas está fazendo uma campanha para o uso de chinelos em escritórios do Brasil, e diversos bancos e instituições financeiras estão abolindo a uso de roupas formais do dia-a-dia. Acredito que caminhamos para um futuro próximo onde todos possam se vestir como quiserem, e que nosso profissionalismo não precise ser medido por uma gravata. É o que espero.

E você, já passou por isso? Já se arrumou para ir ao médico ou ficou de cara quando se arrumou para uma reunião, ela foi desmarcada e pensou “Droga, gastei minha roupa de reunião hoje”? Comenta aí!

Artigo originalmente publicado no meu instagram (sim, as pessoas leem textões por lá também). Segue lá http://instagram.com/falecomh e vamos trocar uma ideia.

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